A intersecção entre tecnologia, regulação e inovação no universo da supervisão financeira esteve em foco no 3º Encontro Nacional de Auditoria Financeira dos Tribunais de Contas do Brasil (ENAF-TC). No auditório do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA), Ailton de Aquino Santos, Diretor de Fiscalização do Banco Central do Brasil (BCB), proferiu a primeira palestra do evento “Os novos horizontes da supervisão financeira: Tecnologia, Regulação e Inovação”, abordando as principais tendências que estão remodelando a fiscalização do mercado.
No início da apresentação, Ailton Santos ressaltou o contexto da supervisão financeira, que está diante de um cenário de transformação, com novos modelos de negócios, digitalização, inovações tecnológicas, iniciativas inovadoras (Pix, Open Finance, Drex) e com a expansão e diversificação das Entidades Supervisionadas (ES).
Em seguida, o Diretor de Fiscalização do BCB detalhou o modelo de supervisão do Banco, que se estrutura em duas dimensões: “Primeiro é o trabalho de monitoramento, uma equipe de estrutura de monitoramento e, de supervisão potencial e supervisão de conduta. E isso é fundamentado completamente na parte de gestão estratégica e equipes especializadas”. Ele explicou que o modelo funciona como uma supervisão baseada em dados, que é entregue pela entidade supervisionada. “Nós fazemos todo o trabalho de tratamento dos dados, sinalizamos tudo isso para a supervisão potencial na ponta e essa supervisão volta com o feedback”, finalizou.
Tecnologia na supervisão
Durante a palestra, ele destacou o uso das SupTechs, as tecnologias empregadas pelo Banco Central para aprimorar o monitoramento, a supervisão e a regulação das entidades supervisionadas. Como exemplo prático, falou da “Axis”, que faz a leitura e classificação automatizada das opiniões dos auditores nos relatórios de auditoria externa, o que, para ele, seria um bom uso para os Tribunais de Contas.
“O fluxo dele começa com a gente recebendo as demonstrações financeiras, as instituições, os pareceres, que estão todos desestruturados. Eu consigo estruturar essa informação, trabalhar no banco de dados e entregar o relatório”, apresentou. Segundo o palestrante, a tecnologia permite analisar os pareceres de auditores independentes, identificar parágrafos de ênfase e extrair informações cruciais de forma automatizada, transformando dados desestruturados em inteligência acionável.
Apesar da crescente dependência da tecnologia, Aquino ressaltou que o elemento humano é insubstituível na supervisão. “A gente precisa de gente. Hoje a moda é Inteligência Artificial, parece que ela vai resolver todos os nossos problemas. Na verdade, ela vai melhorar e fortalecer os nossos processos. Mas ao fim e ao cabo, eu preciso de gente na ponta, para conversar com o banqueiro, para saber para onde ele está indo… a IA não vai me substituir”, afirmou.
O Diretor de Fiscalização do BCB finalizou sua apresentação no 3º ENAF-TC ressaltando a natureza de constante evolução da supervisão, destacando desafios como a cobertura completa e a rápida inovação na indústria financeira. “A gente está sempre revisitando o nosso modelo de supervisão, porque os desafios são constantes”, frisou.
ENAF-TC
O 3º Encontro Nacional de Auditoria Financeira dos Tribunais de Contas do Brasil (ENAF-TC), promovido pelo Instituto Rui Barbosa (IRB), Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE-BA) e Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia (TCM-BA), será realizado nos dias 7 e 8 de julho de 2025, na sede do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA), em Salvador-BA.
Com o tema central “O presente e o futuro da Auditoria Financeira nos Tribunais de Contas do Brasil”, o evento tem como objetivo aprofundar discussões sobre a institucionalização do processo de Auditoria Financeira nos Tribunais de Contas. A programação contará com painéis e debates que abordarão cases de sucesso na aplicação de técnicas de Auditoria, bem como as tendências nacionais e internacionais, incluindo aspectos processuais e mudanças nos critérios de análise baseados nas IPSAS, convergidas no Brasil pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
O ENAF-TC conta o patrocínio da Companhia de Gás da Bahia (BahiaGás) e da Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A. (Desenbahia) e o apoio institucional do Banco Mundial, Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), Conselho Nacional de Presidentes dos Tribunais de Contas (CNPTC) e Associação Brasileira dos Tribunais de Contas dos Municípios (Abracom).
*Com informações e fotos do TCE-BA.