30 anos de docência

Educação e Docência

Inaldo da Paixão Santos Araújo
Mestre em Contabilidade. Conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia. Professor. Escritor.
inaldo_paixao@hotmail.com

Escrevo para falar sobre um momento especial. Ao fazê-lo, tento me aproximar ainda mais de quem me lê.

Aprendi com o Conselheiro Antonio Honorato que o elogio somente tem sentido quando é feito pelo outro. Sendo assim, minhas escusas.

Em agosto de 2020, completo 30 anos de docência. Mais que comemorar, reflito o quanto é necessário crer na educação.

Nesse período em que vivi momentos de receio, angústias, incertezas, dúvidas e felicidade, muito aprendi e aprendo com meus alunos. Valeu a pena ter acreditado.

Agradeço a todos aqueles que me ajudaram nessa função, em especial ao Dr. Gaspare Saraceno, que, enquanto Diretor da Faculdade de Economia da Universidade Católica do Salvador (UCSal), nos idos de 1990, após breve entrevista, entregou-me aos meus primeiros alunos.

Aproveito para discorrer sobre o quanto foi e é bom ser professor. Nesses tempos, como disse Alberto Caeiro em Poemas, aprendi a desaprender […] “e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos. Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu”.

Eduzi que, mais do que ser professor, é preciso ser educador. Professar a educação em sua essência para que ela liberte e transforme sem predicar. Compreendi que ser docente é reconhecer que a melhor acepção para o verbo ensinar é mostrar, indicar, inspirar. Jamais transmitir ou impor uma verdade. Verdade? O que é mesmo?

Oriundo das ruas da Liberdade, mas longe da liberdade das ruas, e após cursar o ensino básico em escola pública, reconheço o quanto o esforço e a educação contribuem para transformar uma realidade.

Com base nesse experimentar, afirmo para os meus alunos – que nunca serão meus – que, mesmo parecendo difícil e distante, não devemos esmorecer e deixar de acreditar e trabalhar por aquilo que sonhamos.

Às vezes, e como confesso em sala de aula quando conto minhas histórias, sinto-me cansado e penso em desistir. A messe é árdua. O reconhecimento é pouco. Os algozes são inúmeros. Os aleivosos multiplicam-se. No entanto, quando vejo certos olhares e quando ouço ou leio determinadas palavras (“obrigado pelo que tu dissestes, professor”), peço a Deus força para continuar na messe. Ele, Ser caridoso, concede-me a graça da perseverança.

Certa feita, como presente de aniversário, um e-mail me cativou. O passar dos anos nos deixa mais emotivos e menos receosos. Talvez, por isso mesmo, dou a público o que recebi:

“Nesta data tão especial, permita-me dizer-lhe algumas singelas palavras. Mas o que dizer a um homem que possui em seu sobrenome um dos pré-requisitos para alcançar o sucesso? Ainda assim, atrevo-me a continuar essas linhas.

Professor, várias vezes me peguei pensando se a minha vida estava fadada àquilo que eu estava vivendo, a verdade é que eu esperava – e ainda espero – que minha vida desse uma guinada, de maneira tal que eu pudesse olhar para trás e respirar aliviado na certeza de que cheguei a algum lugar, diferente do inicial, melhor inclusive.
[…]
Lembrei-me então da história que o senhor nos contou no primeiro dia de aula, a melhor de todas as histórias que o senhor contou ao longo desse semestre. A história da sua vida.

Percebi que algumas circunstâncias nos levaram a pensar de forma semelhante. Como foi bom escutar aquelas palavras, que para mim são um relato indubitável de que as coisas podem sim mudar, como mudaram para o senhor.
[…]
A sua trajetória nos mostra que não foi nada fácil chegar aonde está, e o senhor fez questão de destacar isso, para que soubéssemos que nada vem de mão beijada.

Portanto, quero lhe dizer que tenho orgulho de ter sido seu aluno, e do prazer de ter lhe conhecido. Feliz aniversário, e que tudo aquilo que o senhor almeja se realize em sua vida.”

Como disse, não é bom falar de si, mas essas palavras que ganhei de Edvaldo Santos, aluno da Universidade Católica do Salvador (Ucsal), por mim serão sempre lembradas. Elas, entre tantas coisas boas, fizeram-me crer ainda mais que vale a pena continuar nesse combate.

Após 30 anos de aprender e desaprender, creio que estou na boa senda. Afinal, disse William Arthur Ward: “O professor medíocre conta. O bom professor explica. O professor superior demonstra. O grande professor inspira.”

Assim, continuo na caminhada para me tornar um bom professor, mesmo com a certeza de que nunca o serei por completo. Mas isso não é motivo para se desesperar, afinal, além de Cristo, quem verdadeiramente o é?

Inaldo da Paixão Santos Araújo

Mestre em Contabilidade. Conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), escritor