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Antigamente, em um tempo não tão distante assim, mas saudoso, as pessoas que falavam demais, que não conseguiam guardar uma informação apenas para si próprias, propagando-a aos quatro cantos do mundo, eram chamadas de fofoqueiras.

Assim, os nossos dicionários definem o que é conhecido por fofoca: rumor; boato; falatório; dito cheio de maldade; disse me disse; mexerico; fuxico; futrica; aquilo que se comenta com o intuito de causar intrigas; conversa sem fundamento; especulação; ação ou efeito de fofocar, de bisbilhotar, de divulgar os segredos de outras pessoas.

Nos dizeres de Deonísio da Silva, no clássico “De onde vêm as palavras”, “a fofoca é quase sempre um dito maldoso, a divulgação de detalhe da vida alheia que o outro gostaria que fosse ignorado”.
Será mera coincidência qualquer semelhança entre a fofoca e as hoje tão divulgadas, mas que precisam ser sempre rejeitadas, fake news? O que será que as diferencia?

Enquanto que a fofoca é divulgada de pessoa para pessoa, podendo ser baseada em fatos reais ou em mentiras, as fake news são sempre mentirosas e sua forma de divulgação ocorre mediante as redes sociais, logo com propagação bem maior.

Como mencionei em artigo anterior, as fake news levaram o maior aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas (o WhatsApp) a limitar a quantidade de mensagens que podem ser replicadas.

Mas o que de fato me intriga é que, enquanto que antigamente era uma vergonha ser tido como fofoqueiro, e a própria pessoa que fazia a fofoca trabalhava na surdina para que assim não fosse reconhecida, hoje ninguém se constrange em divulgar amplamente essas falsas informações sem a menor cerimônia.

Na verdade, hoje, a necessidade de ter uma quantidade imensa de informação é tão forte que, para muitos, o que menos importa é checar a credibilidade daquilo que é divulgado.

Aqueles que recebem a falsa informação e a propagam não imaginam que estão prestando um desserviço à sociedade, mas sim, ingenuamente, um serviço de utilidade pública. Esquecem-se de que ter mais informação sem qualidade não é sinal de sabedoria.

Enquanto isso, os seus criadores, os fofoqueiros de outrora, se vangloriam e se regozijam pelo sucesso de seu malfeito. No mundo virtual, quanto mais “likes” e seguidores melhor, mesmo que, por vezes, não passem de robôs.

E o avanço tecnológico tenderá a agravar a propagação das fakes news face à possibilidade da criação e manipulação de imagens, vídeos e vozes “tão convincentes que será difícil distingui-los da realidade”, podendo transformar a realidade em um verdadeiro “Black Mirror, que mexerá ainda mais com a nossa capacidade de distinguir entre a imitação e o real, o falso e o verdadeiro”, como pertinentemente nos alerta Michiko Kakutani no livro “A morte da verdade”.

Por isso, querido leitor, quando receber qualquer tipo de informação, por mais que esteja ávido por ela, apure, cheque, verifique e não a repasse se não tiver certeza. É melhor ser tido como alguém que desconhece um fato do que como aquele que, ainda que inocentemente, afeta maldosamente a vida dos envolvidos em situações inverídicas.

Afinal, em 2018, o papa Francisco já pregava que “não existe desinformação inofensiva; acreditar na falsidade pode ter consequências calamitosas”. E isso tem todo sentido, pois, como descrito no Evangelho de João, 8;32: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

*Inaldo da Paixão Santos Araújo
Mestre em Contabilidade, conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, professor, escritor.
inaldo_paixao@hotmail.com

Inaldo da Paixão Santos Araújo

Mestre em Contabilidade. Conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), escritor